Sergio Zimerman, CEO da Petz, fala sobre a carga tributária brasileira e explica as sugestões apresentadas no Congresso Brasilshop 2018

Homenageado com o prêmio Empresário do Ano, no Simpósio Nacional de Varejo e Shopping, Sérgio Zimerman foi convidado para o painel de abertura do Congresso Brasilshop 2018. Após a fala do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que abordou questões como Reforma Tributária, Reforma da Previdência e redução de custos, Zimerman falou sobre a carga tributária no Brasil.

Ao contrário de muitos dos empresários presentes, ele afirmou que os tributos brasileiros estão na média mundial; porém, são mal utilizados. E a população pobre é a maior prejudicada pois além de pagar, proporcionalmente, mais taxas do que os mais ricos, também recebe muito menos contrapartidas do Governo.

“Quero dizer que concordo com a análise da esquerda: o povo brasileiro é um povo explorado”, provocou.

Na entrevista a seguir, ele fala sobre tributos, corrupção e eleições presidenciais.

Poderia fazer um resumo da sua apresentação na abertura do Congresso Brasilshop 2018?

Eu estava esclarecendo que o Brasil tem 34% de carga tributária. E, ao contrário do que alguns acham, não é a taxa mais alta do mundo, é exatamente a média do que se tributa no mundo todo. Tem países que tributam 46, 47% enquanto outros tributam 15 ou 20%. O problema não é o tamanho da carga tributária: é a contrapartida que recebemos por ela. O Brasil é, com certeza, o pior país do mundo em contrapartida. Pagamos tudo isso e não temos saúde, educação e nem segurança. Acabamos pagando em duplicidade essas coisas quando usamos.

O segundo problema é a estrutura da carga tributária. No resto do mundo ela é formada, basicamente, 40% na renda e 20% em cima do consumo. Aqui no Brasil é 50% no consumo e 20% na renda. Então, isso provoca uma distorção gigante onde o mais rico paga menos imposto, proporcionalmente, do que o mais pobre. O mundo inteiro tem um sistema progressivo de renda, onde quanto mais rico você é mais você paga imposto. Aqui, quanto mais rico você é menos você paga.

O Brasil não tributa dividendos de empresas quando é distribuído lucro para pessoa física, só aqui e na Estônia que isso acontece. Então, o Brasil tem distorções que favorece muito quem mais ganha. E o maior problema de todos é que esse imposto sobre o consumo está embutido no preço. Nos EUA, quando você vê um produto na vitrine por US$ 100, no caixa você paga US$ 110 – 100 do produto e mais 10 dos impostos.

O que aconteceria se o Brasil adotasse o mesmo sistema dos EUA?

Se o Brasil adotasse o mesmo princípio, teria que ter uma etiqueta de preço de R$ 100 e no caixa você pagaria R$ 200 – 100 do produto e 100 de imposto. E isso provocaria uma guerra civil no país, uma revolução. Hoje, o imposto aparece na nota fiscal, mas ninguém presta atenção.

O grande problema é que quem ganha R$ 1000, R$ 1500 por mês acredita que não paga imposto, porque é isento do imposto de renda. Mas o imposto que ele paga sobre o consumo é brutal.

Então, com todas essas premissas, quero dizer que concordo com a análise da esquerda, que o povo brasileiro é um povo explorado. Aqui existe muita injustiça social e muitas desigualdades. O remédio é que eu discordo, porque o remédio da esquerda é falar contra o empresário, contra o empreendedor, contra o rico e a favor de um Estado mais “grande” e “protetor”. Para mim, o remédio adequado, é: ricos, empresários, empreendedores, assalariados e pobres estão do mesmo lado.  O nosso inimigo comum se chama “Estado”. O Estado que é opressor, que massacra todo mundo com uma carga tributária gigante e uma ineficiência naquilo que retribui.

Na medida em que a gente tivesse mais consciência disso, teríamos que exigir Reforma Política, Reforma Tributária, para que a Sociedade carregasse menos o Estado.

O que o senhor pensa sobre a privatização da Petrobrás, mencionada pelo pré-candidato Flávio Rocha no Café da Manhã?

Qualquer coisa que não seja ligada intimamente à Saúde, Educação e Segurança e, assim mesmo, pode ser que existam coisas que mereçam ser privatizadas, o Governo deveria abrir mão. Porque o Governo pode ter agências reguladoras que controlem bem as privatizações, pode ter receitas de impostos extraordinárias em cima das empresas, e deixar isso para a iniciativa privada – que geralmente faz isso melhor e não se torna um antro de corrupção.

Porque aquele slogan “A Petrobrás é Nossa”… o “nosso” é do político de plantão. Veja que o PT, durante 13 anos, usou a Petrobrás para fazer todo tipo de financiamento equivocado que pode se fazer numa sociedade. Aos políticos populistas interessa manter essas grandes empresas nas mãos do Estado para que eles façam uso dela.

O que mudaria na hora do voto se o cidadão brasileiro tivesse consciência de todos os impostos que paga?

Mudaria muita coisa. A primeira coisa é que eles votariam em deputados, senadores, governadores, prefeitos que defendessem um Estado menor, mais eficiente. O que seria a contrapartida mais justa? Educação, saúde e segurança.

Educação principalmente em nível básico. Um dos exemplos de como se beneficiam os mais ricos é a educação no Estado de São Paulo, que gasta 30% do que arrecada com educação; só que 20% é para o Ensino Básico, que atente 17 milhões de criança e 10% para o Ensino Superior é para atender 131 mil universitários. Então, se você pegar o gasto por criança x o gasto por universitário evidencia a desproporção. O correto é pegar essa verba do Ensino Superior e aplicar no Ensino Básico, porque isso criaria oportunidades.

Houve uma época em que só não estudava em escola pública quem tinha dificuldade em acompanhar o ensino. Hoje em dia, quem tem dinheiro paga escola particular até o Ensino Médio e faz vestibular para entrar na USP. Já quem estudou em escola pública tem poucas chances de entrar na USP. Meu filho está se preparando para entrar na USP e eu me sinto envergonhado em pensar que, se ele for aprovado, quem vai pagar a formação dele é o povo.

 

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